Poucos são os jogos que podem se orgulhar por implementarem conceitos realmente originais e particularmente não vejo problemas naqueles que se inspiram em grandes sucessos para alcançar seu público. Porém, existe uma grande diferença entre inspiração/homenagem e cópias descaradas e um jogo chamado The Last Hope – Dead Zone Survival serve para ilustrar isso muito bem.
Desenvolvido em conjunto pela VG Games e a West Connection Limited, The Last Hope causou um certo frisson na internet nas últimas semanas não pela sua proposta, mas por ser uma cópia vagabunda do aclamado The Last of Us para o Nintendo Switch.
Nele teríamos que sobreviver a um apocalipse zumbi, com o protagonista Brian Lee sendo acompanhado por Eve, uma garota que poderia ser descrita como uma “Ellie da Shopee”. No trailer de divulgação, o herói era descrito como um soldado e pai que foi enviado para o futuro para salvar o mundo, uma premissa ridícula, mas que é apenas uma pequena parte de um pacote muito maior.
No vídeo podíamos ver um personagem genérico atirando em mortos-vivos muito malfeitos, com a cidade em que se passa a aventura contando com poucos detalhes e nenhuma criatividade. Já a página do que The Last Hope no eShop dizia o seguinte:
“Ao navegar pelas traiçoeiras ruas da cidade, você encontrará diversos locais que são a chave para sua sobrevivência. Viaje até a biblioteca para proteger uma garota inocente de ousados zumbis, vá até a farmácia para obter suprimentos médicos vitais, explore a delegacia de polícia para se equipar com armas poderosas e aventure-se nas profundezas escuras dos túneis do metrô, onde horrores inesperados o aguardam. Cada local apresenta seu próprio conjunto de desafios que o aproximam de seu objetivo final: escapar da cidade em um navio para um porto seguro e salvar a garota, pois cada vida importa quando tudo o que resta é a Última Esperança.”
Mas a falta de criatividade não era o que de pior o jogo tinha a nos oferecer. Bastou ele ser lançado para descobrirmos que o conteúdo também não era seu forte. Após uma avaliação feita pelo pessoal do Digital Foundry, eles se depararam com uma cidade minúscula, contando basicamente com uma rua e poucos edifícios que podem ser explorado. Isso faz com que a campanha possa ser tranquilamente concluída em menos de 20 minutos, mas este nem é o maior problema do jogo.
Com o desempenho podendo ser descrito como sofrível, as quedas na taxa de frames são constantes, bugs e glitchs estão por todos os lados e o jogo ainda sofre com uma jogabilidade porca, com a munição sendo escassa e o sistema de resistência sendo um dos piores já vistos. Isso porque a barra não regenera com o passar do tempo, nos obrigando a pensar bem antes de partirmos para ataques corpo-a-corpo, já que poderemos encontrar apenas três itens capazes de nos dar mais fôlego.
Tamanha escassez de recursos fez o Digital Foundry chegar à conclusão de que só poderemos matar cerca de 65 zumbis durante a campanha, isso se não errarmos disparos, soubermos utilizar o taco de baseball corretamente e não corrermos.
E para ilustrar a falta de cuidado por parte dos desenvolvedores, podemos citar um minigame em que precisamos arrombar a porta de um carro de polícia. Enquanto estivermos usando uma gazua para conseguir entrar no veículo, os zumbis poderão nos atacar, mas inacreditavelmente o jogo não nos dá nenhum sinal de que isso está acontecendo. Assim, o provável é que você acabe sendo morto sem nem saber que estava sendo atingido.
Considera essa uma grande falha de projeto? E se eu te disser que em alguns pontos a interface nos pede para pressionar a tecla E para abrirmos uma porta? Sim, isso num jogo para o Nintendo Switch, onde essa tecla nem existe!
Eu nem entrarei no mérito dos muitos assets obtidos na loja da Unity Engine, pois eles estão lá para serem utilizados. Porém, tudo isso tem feito com que o The Last Hope já seja apontado por muitos como o pior jogo lançado em 2023, com ele tendo apenas duas avaliações por parte da imprensa no Metacritic. O público também não gostou do que lhes foi oferecido, com a média por lá estando em apenas 1.8 (apenas quatro avaliações) e ao que tudo indica, o interesse pelo jogo não deverá aumentar.
Embora tenha chegado à loja do Switch pelo preço de 8,99 libras esterlinas, o título esteve em promoção até o dia 13 de julho, quando podia ser adquirido por meras 0,99 libras. Contudo, agora ele não pode mais ser encontrado, já que alegando violação de direitos autorais, a Sony conseguiu derrubar tanto a venda quanto a divulgação do trailer no YouTube.
O que não sabemos ainda é se os japoneses chegaram a acionar judicialmente a VG Games e a West Connection Limited, empresas que, por sinal, possuem um histórico de “homenagens” a marcas conhecidas. São eles os responsáveis por pérolas como World War: Battle Heroes Field Army Call of Prison Duty Simulator, Gangster Life: Criminal Untold, Cars, Theft, Police, Gangster Life: Untold, Farm Simulator e Shark Attack: Fish Predator Ocean Sea Adventure Survival.
Verdade seja dita, essa tentativa de conseguir vendas para jogadores desavisados não é exclusividade dessas companhias. O eShop é uma loja que está infestada de jogos com a qualidade abaixo da crítica, algo que nos habituamos a chamar de shovelware. São títulos vendidos por valores baixos e desenvolvidos rapidamente, quase sempre usando nomes chamativos e exibindo screenshots bem diferentes daquilo que encontraremos ao jogar.
Por um lado, é bom que a Nintendo facilite a publicação de jogos na sua loja virtual, mas ao fazer isso a empresa acaba abrindo as portas para uma enxurrada de porcarias e ainda pior, para produções próximas a um golpe. É triste pensar que algumas pessoas podem acabar adquirindo esses títulos por engano, assim como é triste a impressão de que o eShop virou terra de ninguém.
Também há de se lamentar os estúdios independentes sérios que acabam tendo uma enorme dificuldade de se destacar em meio a esse chorume. Os jogos mais bem-sucedidos podem não sofrer com isso, mas entre tantas porcarias há alguns títulos interessantes e baratos que nunca chamarão a nossa atenção, até por ficarmos com medo deles serem apenas mais uma cópia barata (e safada) de alguma grande produção.
The Last Hope: quando a imitação não é um bom elogio - Meio Bit
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