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Sunday, May 7, 2023

Mosaico gigante rouba a cena em avenida de Vinhedo; vídeo mostra dimensão da obra - G1

Mosaico de pastilhas produzido pelo artista plástico Elvis da Silva em Vinhedo (SP)

Mosaico de pastilhas produzido pelo artista plástico Elvis da Silva em Vinhedo (SP)

Quem passa pela Avenida Castelo Branco, um dos principais acessos a Vinhedo (SP), município de 81 mil habitantes, se depara com uma verdadeira exposição ao ar livre. O mosaico criado pelo artista plástico Elvis da Silva tem atraído olhares, acenos e flashes de quem entra e sai da cidade.

Ainda em desenvolvimento, o mural terá aproximadamente 270m² e conta a história do Brasil sob os olhares do artista. Referências da cultura indígena brasileira e vivência de três anos em comunidade na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru inspiram os 90 metros de comprimento do mosaico feito com pastilhas que seriam descartadas.

A construção é fruto de uma parceria entre o artista e a empresa que fornece materiais para a obra. Inicialmente, Elvis foi à empresa em busca de pastilhas de cerâmica para outro mosaico e acabou recebendo a doação de materiais que seriam descartados por conta de imperfeições.

“Sempre tive esse desejo, mas era um material muito caro. Quando eu montei os mosaicos, mandei as fotos pra eles e eles [empresa] gostaram. Então, quando viemos conversar, eles falaram ‘então faz a história aqui’ e eu comecei a fazer”.

Mosaico de pastilhas desenvolvido pelo artista plástico Elvis da Silva — Foto: Fernando Almeida / g1 Campinas e Região

Mosaico de pastilhas desenvolvido pelo artista plástico Elvis da Silva — Foto: Fernando Almeida / g1 Campinas e Região

Bombando nas redes

A obra tem repercutido nas redes sociais do artista e as publicações somam mais de 25 mil visualizações no Instagram. Nos comentários, elogios e agradecimentos são unanimidade.

"Como eu te disse alto, ao passar de carro por você trabalhando esta semana, teu trabalho é muito bacana, cara! Obrigado por deixar nossa cidade tão bonita! Por mim, você cobria todas as paredes de Vinhedo. Parabéns, Elvis!", diz um dos seguidores do artista.

Até pessoas de outras cidades que já passaram pelo local foram às redes do artista para relembrar. "Parabéns Elvis! Sou tua fã, sou de São Caetano do Sul (SP). Eu vi este mural no começo, parei o carro e fui ver de perto essa maravilha. Falei um pouquinho com você, educação ímpar e muito simpático, fui embora encantada. Agora preciso voltar e apreciar sua obra de arte finalizada", afirma outra internauta.

Talento surgiu na infância

Natural de Pirassununga (SP) e radicado em Campinas (SP), Elvis conta que o talento com as artes plásticas surgiu ainda na infância, enquanto acompanhava o pai nas frequentes mudanças de cidade por conta do trabalho.

“Na infância, eu morava em fazenda. Desenhava bastante na escola, mas eu ia guardando os desenhos em alguns barracões e a gente mudava às vezes de uma fazenda pra outra. Nós éramos colonos, meu pai era administrador de fazenda, às vezes era motorista, então nós mudávamos bastante. A gente chegou a mudar várias vezes em um ano e esses materiais que eu pintava e desenhava foram se perdendo”.

Os primeiros trabalhos surgiram nesse período, em meados da década de 1970, quando a família trabalhou com fabricação e exportação de berrantes desenhados pelo artista. “Ele [pai] ia ao Aeroporto de Viracopos e de lá exportava os berrantes que eu desenhava para a Alemanha. Tem alemão até hoje com os berrantes que eu desenhei”, relembra.

Hoje, aos 58 anos e aposentado como servidor público, Elvis produz o que considera a maior obra de sua carreira. O mosaico, que já tem 55 metros de comprimento, conta a história do Brasil e da região de Vinhedo através de retratos e referências à cultura e biodiversidade brasileira.

Ao fim da obra, o mosaico de Elvis da Silva em Vinhedo (SP) terá 270m² — Foto: Fernando Almeida / g1 Campinas e Região

Ao fim da obra, o mosaico de Elvis da Silva em Vinhedo (SP) terá 270m² — Foto: Fernando Almeida / g1 Campinas e Região

História na Amazônia

A principal inspiração do artista para retratar a cultura indígena, traço forte de suas obras, é uma experiência de pouco mais de dois anos vivendo na Amazônia. Entre 1988 e 1990, Elvis morou com a então esposa em Tabatinga (AM), cidade no interior do Amazonas que faz fronteira com a Colômbia e o Peru.

"A gente tinha uns lugares retirados, caminhos no meio da roça, no meio da selva, que a gente ia buscar alguns paneiros de farinha e acabava encontrando os ticunas (povo ameríndio que vive na fronteira) e às vezes a gente ficava por lá um período, comprava um abacaxi, comia peixe assado e depois voltava para Tabatinga", conta.

Durante a passagem, enquanto Elvis trabalhava e fazia atividades voluntárias em Tabatinga, a convivência diária com os povos originários o fez se apaixonar pela cultura indígena: "Tive muitas vivencias com pescadores, com comerciantes, e final de semana a gente ia passear onde? No meio da selva, com os índios".

Mosaico retrata história do Brasil e biodiversidade — Foto: Fernando Almeida / g1 Campinas e Região

Mosaico retrata história do Brasil e biodiversidade — Foto: Fernando Almeida / g1 Campinas e Região

Reação do público

Apesar dos anos dedicados às artes plásticas e das obras vendidas, doadas e expostas em diversas cidades da região, inclusive no Centro Cultural da Unicamp - CIS Guanabara, o artista celebra o mosaico como a obra de maior reconhecimento de sua carreira.

"É uma obra púbica. O dia inteiro passando gente buzinando, gritando, é um negócio de doido. Eu não estava acostumado com isso. Eu faço exposição, mas...", dizia o artista, quando foi interrompido por mais um das dezenas de motoristas que passam buzinando e acenando durante as horas diárias que trabalhando na obra.

Elvis conta que, principalmente aos finais de semana, a obra vira alvo de olhares, selfies e até grupos de professores:

"Acho que isso é muita responsabilidade. Não é uma arte passageira, isso é para durar milhares de anos se não derrubarem o muro. Então, uma coisa que vai durar 100 anos, você não pode colocar uma moda, tem que ser tipo uma musica clássica".

E essa ideia de perpetuação da arte, de uma obra tão imponente, é valorizada pelo artista.

"A ideia é sobreviver. Nossos netos vão estar passando aqui, se ninguém derrubar o muro, e vão estar falando 'eu lembro meu pai, meu avô, meu tio...’, é um negócio para sempre", completa.

*Sob supervisão de Fernando Evans

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