São Paulo – Cientistas de todo o mundo divergem sobre os possíveis impactos da inteligência artificial (IA) na sociedade. Não existe consenso sobre a extensão dos efeitos da disseminação dessa tecnologia. Contudo, há certa concordância entre especialistas de diferentes áreas que debruçam sobre o tema: a IA veio para ficar. Mais do que isso, para mudar o mundo. Porém, não necessariamente para melhor. Diante disso, são muitos os nomes importantes das ciências da computação com posicionamento contrário ao desenvolvimento da IA.
Um deles é Geoffrey Hinton, pioneiro na pesquisa e desenvolvimento de IA no Vale do Silício, nos Estados Unidos. Hinton abandonou seu posto de “padrinho da IA” no Google após mais de uma década de trabalho dedicado, exclusivamente, ao desenvolvimento do chamado aprendizado de máquina.
A principal razão apontada pelo cientista para sua decisão foi a falta de liberdade para apresentar críticas ao futuro que se avizinha, como disse em entrevista nesta semana ao The New York Times. Hinton desnuda a suposta imparcialidade das grandes empresas de tecnologia (as big techs).
Mau uso ilimitado da IA
Na entrevista publicada nesta semana pelo The New York Times, Hinton, considerado “padrinho da IA”, engenheiro do Google, rejeita a tecnologia. Para além dos malefícios implícitos, Hinton renunciou ao estudo da IA pelo “uso malicioso em potencial”.
“Em primeiro lugar, me consolo com a desculpa normal: se eu não tivesse feito isso, outra pessoa teria feito (…) É difícil ver como você pode impedir que os atores ruins o usem para coisas ruins.”
De fato, além dos usos maléficos conhecidos, o rápido avanço da IA pode provocar problemas como da extinção massiva de empregos (como teme Musk), ao uso auxiliar ao terrorismo, por exemplo. Assim como algorítmos são hoje utilizados, em particular pela extrema direita, para minar a democracia, estas ferramentas podem auxiliar este trabalho sombrio.
É possível, por exemplo, protocolar um número incontável de petições iniciais junto aos tribunais superiores, com finalidade de impedir o funcionamento das instituições judiciárias. Estes são apenas exemplos do uso malicioso, limitados pelas mentes criativas que se debruçam sobre o tema, carregados de conceitos éticos e morais; estes desprezados por aqueles que planejam usar da IA para fins ilícitos.
Big techs e extrema direita
Malícia, má-fé, práticas ilegais, defesa de crimes em nome do lucro. A cada dia, o verniz de que estas empresas seriam apenas provedores e controladores de uma tecnologia perde uma camada. Enquanto as big techs unem forças à extrema direita em diferentes países, a IA avança sem freios.
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No Brasil, por exemplo, as gigantes do Vale do Silício ressonam discursos mentirosos do bolsonarismo como meio de impedir a regulamentação das mídias, que tramita na Câmara dos Deputados (a votação da matéria está temporariamente suspensa).
Ao contrário do que as empresas afirmam, em uma ampla campanha de difamação, em nenhum momento o Parlamento avançou contra a liberdade de expressão. O objetivo do chamado PL das “Fake News” é o de simplesmente aplicar a lei e a Constituição para o ambiente de internet. Ao contrário, porém, as plataformas fazem forte barreira para garantir a liberdade para a prática de crimes em ambientes virtuais.
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Terra sem lei
Big techs garantem faturamentos inéditos na história da humanidade. Mas como é possível uma empresa que fornece um serviço gratuito faturar mais do que gigantes do petróleo? Ou mesmo bancos? A resposta está em uma máxima do marketing. “Se o serviço é de graça, você é o produto”, afirma a doutrina.
De fato, estas gigantes concentram suas ações mais lucrativas em campos como o big data. Uma área recente do conhecimento que debruça sobre possibilidades mercadológicas que surgem a partir da análise das pequenas vontades, das pequenas ações, de indivíduos em larga escala.
Os riscos são elevados. É notória a movimentação (inédita no Brasil) das big techs para influenciar e barrar mecanismos legais. E isso não está dissociado do avanço descontrolado da inteligência artificial.
Recentemente, um tipo de IA ganhou notoriedade na sociedade. Trata-se da IA generativa. Aquela capaz de “imitar” a voz humana e simular conversas complexas. Embora este mecanismo chame atenção pelo ineditismo do convencimento – em especial com o ChatGPT – a IA não é novidade.
Na verdade, o aprendizado de máquina é estudado pelo menos desde a década de 1930, com maior ênfase a partir dos grandes feitos do cientista Alan Turing (1912-1954), que trabalhou para o avanço das ciências computacionais no contexto da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Inteligência Artificial entre nós
Hoje, a chamada Quarta Revolução Industrial, que engloba desde a disseminação em massa da internet ao desenvolvimento da IA, domina o cenário produtivo capitalista. Seja em economias desenvolvidas como naquelas de desenvolvimento tardio.
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Dito isso, mesmo com a disseminação mais recente da IA generativa, é essencial entender que este tipo de “inteligência” é mais presente no dia a dia das pessoas do que elas imaginam. Algorítmos estudam as mais profundas camadas da psique humana com finalidade única – e massificada: auferir lucros exorbitantes para um pequeno núcleo de operadores das big techs.
O contraponto
É fato que as tecnologias de IA já promovem impactos na sociedade. Contudo, seus efeitos podem ser tão extensos que incomodam até mesmo o mais controversos dos capitalistas das big techs da atualidade, ao menos aparentemente. Elon Musk, CEO de empresas como Tesla, SpaceX e Twitter, é signatário de uma carta aberta que pede a interrupção das experiências com IA.
O temor dos grandes capitalistas não é de todo infundado. Apesar de terem a tecnologia sob seu controle, o risco de destruição da base da pirâmide do trabalho cria incertezas nos mais altos degraus.
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