Durante muito tempo, a esponja marinha foi apontada como o primeiro animal existente na Terra. Mas um novo estudo conduzido por cientistas da Universidade da Califórnia, dos Estados Unidos, e da Universidade de Viena, na Áustria, descobriu que este posto pertence a uma criatura parecida com uma água-viva, conhecida como ctenóforo e que pode ser encontrada nadando nos oceanos e aquários atuais.
No trabalho, publicado esta semana na revista Nature, os pesquisadores usaram uma abordagem baseada na estrutura do cromossomo e constaram que esta espécie foi a primeira linhagem do reino animal. As esponjas vieram depois, seguidas pela diversificação de todos os outros animais, incluindo a linhagem que levou aos humanos.
Embora os especialistas tenham determinado que a linhagem dos ctenóforos se ramificou antes das esponjas, ambos os grupos continuaram a evoluir a partir de seu ancestral comum. E eles acreditam que esses grupos ainda compartilham características com os primeiros animais, e estudá-los pode lançar luz sobre como surgiram e evoluíram para a diversidade atual.
“O ancestral comum mais recente de todos os animais provavelmente viveu 600 ou 700 milhões de anos atrás. É difícil saber como eles eram porque eram animais de corpo mole e não deixaram um registro fóssil direto. Mas podemos usar comparações entre seres vivos para aprender sobre nossos ancestrais comuns", disse Daniel Rokhsar, professor de biologia molecular e celular da Universidade da Califórnia e autor correspondente do artigo.
“É emocionante – estamos olhando para trás no tempo, onde não temos esperança de obter fósseis, mas comparando genomas, estamos aprendendo coisas sobre esses ancestrais muito antigos”, acrescentou.
Organização dos genes em cromossomos
O comunicado destaca que, para saber se as esponjas ou os ctenóforos foram os primeiros ramos dos animais, o novo estudo se baseou na organização dos genes em cromossomos – cada espécie tem um número característico de cromossomos e uma distribuição característica de genes ao longo dos cromossomos.
Rokhsar e seus colegas Darrin Schultz e Oleg Simakov, da Universidade de Viena, haviam mostrado anteriormente que os cromossomos de esponjas, águas-vivas e muitos outros invertebrados carregam conjuntos semelhantes de genes, apesar de mais de meio bilhão de anos de evolução independente. Essa descoberta sugeriu que os cromossomos de muitos animais evoluem lentamente e permitiu que a equipe reconstruísse computacionalmente os cromossomos do ancestral comum.
Mas a estrutura cromossômica dos ctenóforos era desconhecida até 2021, quando Schultz, então estudante de pós-graduação na UC Santa Cruz, e seus coorientadores, Richard Green e Steven Haddock, determinaram a estrutura cromossômica do ctenóforo Hormiphora californiensis.
Segundo Rokhsar, ela parecia muito diferente dos de outras espécies, o que representava um quebra-cabeça. “A princípio, não podíamos dizer se os cromossomos dos ctenóforos eram diferentes dos de outros animais simplesmente porque haviam mudado muito ao longo de centenas de milhões de anos”, explicou. “Como alternativa, eles podem ser diferentes porque se ramificaram primeiro, antes que todas as outras linhagens de animais aparecessem. Precisávamos descobrir isso.”
Os pesquisadores, então, sequenciaram os genomas de outro ctenóforo e da esponja marinha, além de três criaturas unicelulares que estão fora da linhagem animal, um coanoflagelado, uma ameba filasteróide e um parasita de peixe chamado ictiosporo.
Quando a equipe comparou os cromossomos desses diversos animais e não-animais, descobriu que ctenóforos e não-animais compartilhavam combinações particulares de cromossomos de genes, enquanto os cromossomos de esponjas e outros animais foram rearranjados de uma maneira distintamente diferente.
“Essa foi a arma fumegante – encontramos um punhado de rearranjos compartilhados por esponjas e animais não-ctenóforos. Em contraste, os ctenóforos se assemelhavam aos não-animais. A explicação mais simples é que os ctenóforos se ramificaram antes que os rearranjos ocorressem”, informaram os especialistas.
Rokhsae finalizou: “Encontramos uma relíquia de um sinal cromossômico muito antigo. Foi necessário algum trabalho de detetive estatístico para nos convencermos de que este é realmente um sinal claro e não apenas um ruído aleatório, porque estamos lidando com grupos relativamente pequenos de genes e talvez um bilhão de anos de divergência entre animais e não-animais. Mas o sinal está lá e suporta fortemente o cenário ‘ctenóforo ramificado primeiro’”.
Quer conferir os conteúdos exclusivos de Época NEGÓCIOS? Tenha acesso à versão digital.
Criatura parecida com água-viva foi o primeiro animal do planeta, indica estudo - Época NEGÓCIOS
Read More
No comments:
Post a Comment