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Thursday, December 15, 2022

Choquei compartilha vídeo de útero artificial; tecnologia ainda não existe - VivaBem

Um vídeo que mostra fileiras de bebês dentro de uma incubadora —uma espécie de útero artificial— chamou atenção nas redes sociais. As imagens, que parecem ter saído de um filme de ficção científica, foram publicadas pelo perfil de entretenimento e fofoca "Choquei", que apagou o post horas depois.

Muitas pessoas compartilharam a publicação achando que a tecnologia era algo real, já em prática, mas não é bem assim —talvez não por enquanto.

De acordo com reportagem do HuffPost, o vídeo no estilo futurístico é uma criação de Hashem Al-Ghaili, um produtor e cineasta com formação em biologia molecular. Em seu site, ele fala em "imaginar o futuro", mas muita gente pensou que o vídeo era um anúncio real.

Mesmo parecendo algo ainda muito distante, os especialistas consultados por VivaBem explicam que esses úteros artificiais seriam algo possível e viável daqui algumas décadas.

"Hoje não temos a tecnologia", diz Daniel Suslik Zylbersztejn, coordenador médico do Fleury Fertilidade, especializado em reprodução humana. "O que temos hoje são as incubadoras de grandes hospitais ou UTI que conseguem auxiliar bebês nascidos de parto prematuro, de 24, 25 semanas, até que tenham força e energia para serem liberados do hospital."

Aprendemos a nunca dizer nunca para a ciência. Há novos limites e avanços tecnológicos o tempo inteiro. Se eu pudesse chutar, diria que levaria pelo menos 50 anos para vermos algo assim. Daniel Suslik Zylbersztejn, médico especializado em reprodução humana do Fleury

Tecnologia levanta dúvidas

Segundo Zylbersztejn, o vídeo levanta algumas dúvidas sobre a tecnologia, como o desenvolvimento dos embriões nos primeiros dias de vida, em uma fase muito precoce. "Como iríamos nutrir esse embrião? Como fazer com que ele chegue ao início da formação fetal, da formação dos órgãos nas primeiras 12 semanas?", questiona.

Segundo ele, a parte de desenvolver um embrião o ser humano já sabe como fazer, mas ao contrário do vídeo, é preciso inseri-lo em um útero em até sete dias do desenvolvimento.

Se já existisse, quais seriam os benefícios?

De acordo com os médicos, um útero artificial poderia ajudar nos seguintes casos:

  • Pessoas que tiveram de retirar o útero por variados motivos, como o tratamento de um câncer;
  • Pessoas com doenças graves que podem resultar em uma gravidez de risco;
  • Pacientes com má formação no útero;
  • Gravidez na qual há mais risco de um parto prematuro;
  • Reduzir riscos para o bebê, uma vez que as pessoas poderiam manter os hábitos de vida negativos, como fumar e consumir álcool.

Uma vantagem seria aumentar a sobrevida de bebês que têm mais chance de nascer prematuros e, consequentemente, diminuir as sequelas da prematuridade. Eduardo Cordioli, médico obstetra e diretor técnico do Hospital e Maternidade Pro Matre (SP)

bebê no útero artificial - Reprodução/Youtube Hashem Al-Ghaili - Reprodução/Youtube Hashem Al-Ghaili
Imagem: Reprodução/Youtube Hashem Al-Ghaili

E os pontos negativos?

Como é algo que ainda não existe, é difícil saber ao certo como funcionaria o processo, mas os especialistas citaram os seguintes itens:

  • Falta de contato entre gestante e bebê. Os sentimentos e emoções de quem está gestante são fatores importantes para a saúde da criança;
  • Fora de um "útero real", o bebê poderia ter contato com substâncias tóxicas presentes no líquido que, em teoria, vai mantê-lo vivo no ambiente artificial. Isso poderia causar prejuízos à vida da criança.
  • Quando existir, não será uma tecnologia acessível para todos. Será algo de alto custo.

Edição genética

O vídeo mostra os casais escolhendo características físicas do bebê. Os especialistas explicam que a "edição genética" já é uma realidade a partir da tecnologia CRISPR-Cas9 (mais conhecido apenas por CRISPR), mas usada com muito cuidado e em casos específicos.

Segundo Zylbersztejn, na técnica, são subtraídos genes que podem trazer prejuízos à saúde. No entanto, esse mesmo gene poderia, ao mesmo tempo, aumentar a suscetibilidade para outros problemas de saúde.

De acordo com o médico, esse tipo de técnica é utilizada para reduzir riscos de doenças genéticas dentro de uma família, por exemplo, que poderiam levar a uma morte precoce.

Há um grande dilema ético para que essa tecnologia não seja utilizada para reprodução em massa ou produzir 'super-humanos'. Eduardo Cordioli, médico obstetra e diretor técnico do Hospital e Maternidade Pro Matre (SP)

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