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Friday, April 15, 2022

Análise de rocha indica que existiu vida na Terra antes do imaginado - Correio Braziliense

Correio Braziliense

postado em 15/04/2022 06:00

 (crédito: University College London/ Divulgação)

(crédito: University College London/ Divulgação)

Existia vida na Terra mais cedo do que o previsto, afirma um grupo internacional de cientistas. A equipe encontrou evidências que indicam a presença de micróbios em fontes hidrotermais da superfície do planeta 300 milhões de anos após a sua formação — ou seja, há pelo menos 3,75 bilhões de anos. Detalhada na última edição da revista especializada Science Advances, a descoberta indica que as condições necessárias para o surgimento de seres vivos são relativamente básicas e também reforça hipóteses de existência de vida em outros planetas, sinalizam os autores do artigo.

Para chegar à conclusão, os especialistas avaliaram uma rocha do tamanho de um punho, retirada de uma região chamada Cinturão Supracrustal Nuvvuagittuq, localizada em Quebec, no Canadá. O material foi coletado em 2008 e tem uma idade estimada entre 3,75 bilhões e 4,28 bilhões de anos. "A região é um sistema de fontes hidrotermais antigo, onde rachaduras no fundo do mar deixam passar o ferro aquecido pelo magma da Terra", detalham os autores.

Na análise, eles cortaram a rocha em pedaços de 100 mícrons — um mícron equivale à milésima parte de um milímetro — para conseguir observar as minúsculas estruturas do material. Assim, identificaram pequenos filamentos, além de outros indícios estruturais de que o material tinha sido criado por bactérias. Entre as formas detectadas que indicam sinal de vida, estão uma espécie de caule repleto de ramos de quase um centímetro de comprimento, uma série de esferas distorcidas e tubos. "Todas essas estruturas são muito únicas, e isso indica uma origem biológica, não química, o que reforça a possibilidade de micróbios presentes no material analisado", explicam.

Em entrevista ao jornal The Guardian, Dominic Papineau, pesquisador da University College London, no Reino Unido relata que há algumas semelhanças entre o caule "semelhante a uma árvore" descoberto pelo grupo de cientistas que liderou e filamentos feitos por Mariprofundus ferrooxydans, uma bactéria moderna encontrada em ambientes marinhos profundos ricos em ferro, uma condição particular das fontes hidrotermais.

Os pesquisadores também encontraram uma série de evidências de como as bactérias presentes nessa rocha obtinham energia, como a presença de subprodutos químicos mineralizados. De acordo com a equipe, esses elementos são usados por micro-organismos que vivem de ferro, luz, enxofre e dióxido de carbono, realizando uma espécie de fotossíntese com o material. Em conjunto, essas novas descobertas sugerem que uma variedade de vida microbiana pode ter existido apenas 300 milhões de anos depois da formação da Terra. "Em termos geológicos, isso é rápido. Cerca de um giro do Sol ao redor da galáxia", enfatiza Papineau, em comunicado.

A datação científica da rocha analisada indica que ela tem, ao menos, 3,75 bilhões de anos e, possivelmente, até 4,28 bilhões de anos — a idade de outras rochas vulcânicas nas quais ela está incorporada. "Acredito que faz sentido que esse material seja tão antigo quanto as rochas vulcânicas que se avizinham a ele, o que seria 4,28 bilhões de anos", afirma o líder do estudo, que contou com o trabalho de cientistas canadenses e chineses.

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Linha do tempo

Antes dessa descoberta, os fósseis mais antigos com sinais de vida na Terra foram encontrados na Austrália Ocidental e datados de 3,46 bilhões de anos — 290 milhões de anos a mais que o material encontrado no Canadá. Segundo a equipe britânica, essa mudança de datas é extremamente relevante para a linha do tempo do desenvolvimento da vida na Terra e de outras regiões do universo.

"Atrasar esse relógio é muito importante porque nos diz que leva muito pouco tempo para a vida surgir em uma superfície planetária. Muito rapidamente depois que a Terra se formou, havia vida microbiana, que, provavelmente, se alimentava de ferro e enxofre nessas fontes hidrotermais", justifica Papineau. "Se a vida é relativamente rápida para surgir, dadas as condições certas, isso aumenta a chance de que exista vida em outros planetas."

  • Material foi retirado de rochas vulcânicas no Canadá: cinturão já foi parte do fundo do mar

    Material foi retirado de rochas vulcânicas no Canadá: cinturão já foi parte do fundo do mar Foto: D. Papineau.

  • Imagem microscópica do fóssil analisado: filamentos parecidos com os criados por bactérias modernas

    Imagem microscópica do fóssil analisado: filamentos parecidos com os criados por bactérias modernas Foto: D. Papineau.

Planeta de três sóis desaparece

Em 2016, um grupo de astrônomos americanos anunciou a descoberta de um planeta quatro vezes maior que Júpiter e com três sóis. Em um estudo publicado, ontem, na revista Science, a equipe voltou atrás. Após avaliações do sumiço do corpo celeste — feitas por eles e por outros especialistas — conclui-se que ele não existe.

Os cientistas relataram, no artigo, que o sinal de luz do suposto planeta era, na verdade, uma estrela muito mais distante que estava atrás dos três sóis estudados. "Foi um verdadeiro golpe", disse Kevin Wagner, pesquisador da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo, em entrevista ao jornal El País. "Quando publicamos nosso estudo, tínhamos muita certeza. O espectro, o brilho e o movimento do objeto o fizeram parecer inteiramente um planeta em um sistema solar triplo. E calculamos que a possibilidade de ser um falso positivo era muito baixa", acrescentou

Na época da descoberta, o Observatório Europeu do Sul, proprietário do telescópio usado em 2016 pelos especialistas, anunciou, em comunicado, o novo planeta era mais exótico que Tatooine, o planeta imaginário da saga Star Wars, que tinha dois sóis no céu. À época, outros pesquisadores realizaram análises na mesma região em que o suposto planeta se localiza, na constelação de Centaurus, a 320 anos-luz da Terra, e se convenceram da sua existência.

Os autores do estudo ressaltam que por mais difícil ou embaraçoso que possa parecer, o caso do planeta desaparecido mostra como os cientistas precisam admitir possíveis erros e também realizar análises mais duradouras, já que o primeiro estudo foi publicado depois de apenas 11 meses de observações.

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