Pioneiro na construção do game de mundo virtual Second Life, Philip Rosedale disse que a construção de um metaverso é algo que precisa ser minuciosamente planejado para que não haja consequências indesejadas. Em entrevista à revista Time, o fundador do jogo, febre em um passado não tão distante, falou sobre a importância de um sistema de moderação para permitir uma convivência harmônica no ambiente digital.
Rosedale ressaltou a importância de proteger as pessoas ao identificá-las e garantir consequências a ações tomadas no metaverso, pois assim elas se comportarão de forma correta. O problema, segundo ele, seria o fato de que a internet ainda não tem sistema de identificação para o exercício de um monitoramento eficaz das atitudes online e responsabilização dos autores.
Outro especialista que participou da conversa foi o antropólogo e autor do livro Coming of Age in Second Life, Tom Boellstorff, que acredita ser necessário haver uma estrutura forte em vigor para evitar que gente com más intenções usem a plataforma para praticar crimes ou causar danos a terceiros.
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Boellstorff lembrou que a forma como o Second Life contornou isso foi com a necessidade de pagar por uma assinatura, mas isso fez com que as empresas de anúncios não conseguissem explorar o serviço de forma tão eficaz. Como a pessoa já pagava para jogar, a maioria não se mostrava disposto a desembolsar mais recursos para adquirir produtos no mundo virtual, o que vai em sentido oposto da proposta dos metaversos atuais.
“O modelo de assinatura do Second Life é uma razão pela qual você não tem informações incorretas e coisas antivax”, disse Boellstorff à Time. “Nada desse metaverso daqui para frente precisa ser um modelo corporativo específico dirigido por anúncios”, declarou.
Barreiras de entrada no metaverso
Outro aviso que Rosedale deu aos desenvolvedores é para focarem em superar barreiras de entrada ao sistema. Hoje, para acessar ao metaverso da Meta (antigo Facebook Inc.) será preciso usar óculos de realidade virtual, embora a companhia já tenha declarado que pretende integrá-lo a seus programas já existentes. Isso tudo vai exigir um aparato técnico caro e requisitos dos quais nem todos dispõem, como internet rápida, óculos de RV e computador com boas configurações.
Por fim, ainda há uma outra questão a se pensar: os avatares. Na opinião do criador do Second Life, nem todos podem querer se apresentar como um desenho animado, inclusive porque esse formato não é aplicável para todas as situações do cotidiano das pessoas.
“Se você vive uma vida confortável na cidade de Nova York, é jovem e saudável, provavelmente vai escolher morar lá. Se eu oferecer a você a vida de um avatar, você simplesmente não vai usá-la muito. Por outro lado, se você mora em uma área rural com muito pouco contato social, é deficiente ou vive em um ambiente autoritário onde não se sente à vontade para falar, então seu avatar pode se tornar sua identidade primária”, concluiu Rosedale.
Metaverso preocupa
Esses alertas emitidos por alguém que já passou por uma situação semelhante são fundamentais para os criadores de universos digitais se guiarem. Não dá para comparar a proposta do Second Life com o que a Meta ou outras companhias propõem atualmente, mas certamente ambos partem de premissas muito similares.
À medida que o entusiasmo em torno dos metaversos aumenta, mais pessoas do mundo tecnológico começam a mostrar seus posicionamentos sobre a ideia. A ex-funcionária da Meta Frances Haugen, denunciante que desencadeou o chamado Facebook Papers, considera isso extremamente preocupante.
Como tudo ainda é muito novo, há quem diga que a proposta criaria um universo distópico ou que afastaria as pessoas uma das outras, mas esse tipo de sentimento só deve ser sanado quando a coisa chegar, de fato, aos lares das pessoas.
Fonte: Time
Criador de Second Life alerta sobre riscos na proliferação de metaversos - Canaltech
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